Poeta cearense, José Albano nasceu em Fortaleza a 12 de abril de 1882 e faleceu em Montauban, na França, a 11 de julho de 1923. Católico fervoroso, eruditíssimo, de temperamento explosivo e comportamento extraordinário, recebeu a admiração de Jackson de Figueiredo — que o considerava um dos únicos poetas brasileiros de inspiração clássica verdadeiramente católicos — Alceu Amoroso Lima, entre outros. Pouco publicou em vida, e sua obra, pequenina no tamanho, mas de enorme valor, permaneceria desconhecida do grande público, não fosse a edição de sua obra pelo poeta Manuel Bandeira em 1948. Manuel Bandeira que, aliás, assim o definiu: “José de Abreu Albano foi um altíssimo poeta, escreveu um dos mais belos sonetos da língua portuguesa e de todas as línguas, viveu perfeitamente feliz dentro do seu sonho, na loucura que Deus lhe deu e na miséria que foi a criação de sua própria mão perdulária”
A pensar-me às vezes ponho
e não posso compreender
porque sempre acaba o sonho,
quando começa o prazer.
Anda a violeta chorosa
e a rosa alegre e faceta,
só porque eu te chamei rosa
e não te chamei violeta.
Tudo já me persuade
que a ti me não hei de opor:
longe matas de saudade
e perto matas de amor.
Quanto é forte o meu desejo
nesta afeição insensata:
morro, porque não te vejo
e sei que ver-te me mata.
Se queres um lar perfeito,
lembrando a seda sem traças,
cede aos outros o direito
de fazer tudo o que faças.
Tudo que sinto e padeço
posso descrever assim:
o prazer não tem começo
e a tristeza não tem fim!
Há no coração sombrio
um eco brando e sonoro,
que adormece quando rio
e desperta quando choro.
Trago há muito no sentido,
de que vem maior cuidado?
Será de um bem já perdido,
ou de um bem nunca alcançado?
Guardo penas inimigas
nestas cantigas amenas;
e quando canto as cantigas
o coração sente as penas.